
A reforma que não foi pra frente em Eunápolis
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Em Eunápolis, a reforma curricular está parada há algum tempo por conta da mudança na LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação e da Base Nacional Curricular Comum. Fator que tem preocupado muito a categoria, uma vez que a Reforma do Ensino Médio não pode ser adotada sem que a comunidade acadêmica seja ouvida.
Segundo o professor de Filosofia Lincoln Cunha, não há diálogo da gestão com nenhum segmento da comunidade acadêmica ou civil de Eunápolis. Ele lembra que, há cerca de um ano, a Pró-Reitoria de Ensino esteve no Campus para informar sobre a mudança dos cursos de quatro para três anos e o corpo discente participou ativamente do encontro. “Na verdade, não houve um debate, uma vez que a Pró-Reitoria conseguiu responder pouquíssimas questões feitas pelos(as) estudantes que, como sempre, estavam preparadíssimos e com os documentos oficiais na ‘ponta da língua’. O encontro não foi muito bem sucedido para a ProEn, resultando numa carta de repúdio ao movimento estudantil, escrita pela servidora representante daquela Pró-Reitoria, seguida de resposta dos(as) discentes do campus. Após esse episódio, a gestão não trouxe mais o assunto para discussão. As informações que chegam até a nossa comunidade vêm sempre de colegas de outros campi, nunca, porém, da gestão local”, relembra Cunha.
Ele acrescenta que, há cerca de dois meses, a categoria soube em uma “conversa de corredor” que a ProEn estava no campus realizando uma reunião fechada com a gestão (diretores(as) e coordenadores(as) para apresentar a proposta da Reitoria para a reforma curricular, considerando como única alternativa a mudança de quatro para três anos. De acordo com o docente, esta agenda foi fortemente criticada pelo corpo discente e por parte dos(as) professores(as), que também se revelaram contrários(as) à exclusão das disciplinas de Filosofia, Artes, Sociologia, Educação Física e Espanhol.
“Após tal reunião, o silêncio da gestão continuou no Campus Eunápolis. Nada é dito, nada é discutido! Se não fosse pelos(as) resistentes colegas de nosso campus e dos demais campi, nem saberíamos dos planos da Reitoria de fazer tais mudanças sem, sequer, considerar a comunidade acadêmica. É uma pena que os(as) gestores(as) parecem achar desnecessária a participação dos(as) demais docentes, TAE, estudantes e responsáveis nesse debate. Como tal deforma curricular não está sendo discutida com os(as) principais interessados(as)? Qual o valor que o corpo discente tem para a gestão do Campus Eunápolis? No mais, se nosso diretor geral e/ou acadêmico não debate(m) o assunto, precisamos nós, comunidade, arregaçar as mangas e lutar corajosamente contra uma gestão que, conhecidamente, vem mostrando-se autoritária”, chama Cunha.
O docente acredita que o IFBA está afundando ainda mais em uma visão tecnicista e positivista da Educação, quando exclui forçosamente as disciplinas de Filosofia, Sociologia, Artes e Educação física do currículo. Na visão dele, ao concordar com isso, a categoria está afirmando que o importante é formar apenas “apertadores de parafuso”.
“Outro absurdo é aceitar a diminuição da carga horária de todas as disciplinas do núcleo comum, que não serão mais obrigadas em todos os anos. Essa garantia/obrigatoriedade ficará resumida apenas a Matemática e a Língua Portuguesa. O que precisamos fazer é discutir os reais motivos que causam a evasão e a repetência. Por quais motivos o número de evasão é maior no primeiro ano? Retirar o quarto ano, segundo estudo feito por alguns/algumas servidores(as) do Campus Eunápolis, não é a solução. Concordar com o aumento da carga horária das disciplinas técnicas em detrimentos das demais disciplinas não resolverá os reais problemas que nós temos. Precisamos, de fato, nos debruçar sobre as condições que damos aos/às estudantes para que permaneçam no instituto. A entrada deles(as) é garantida, mas parece que estamos virando as costas quando o assunto é permanência. Será que apenas garantir bolsas e auxílios financeiros é suficiente? Quais são os(as) estudantes que mais desistem? Quais têm mais dificuldades? Será que, de fato, eles(as) desistem ou são ‘colocados(as) pra fora’? São muitos os questionamentos que devemos fazer antes de impor a reformulação. Nenhum(a) colega com quem converso é contra o fato de que é preciso repensar a formulação dos cursos, no entanto, a reformulação deve ser discutida exaustivamente com a comunidade. Se não há diálogo, há resistência!”, finaliza.
Imagem: Reprodução