
A Revolução Será Feminista ou Não Será!
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Como um ato de resistência, o SINASEFE-IFBA orienta a paralisação de nossas filiadas nesta sexta-feira (8/03), Dia Internacional da Mulher, para realização de atividades públicas nos locais de trabalho. O objetivo é envolver mulheres de todos os espaços e condições de vida: negras, indígenas, quilombolas, com deficiência, lésbicas, bissexuais, trans, cis, idosas, encarceradas, periféricas, camponesas, sem teto, mães, não mães, estudantes, jovens, desempregadas, etc.
A revolução será feminista ou não será!
Texto de autoria de Rosangela de Barros Castro (Coordenadora Geral do SINASEFE-IFBA) e Paula Vielmo (conselheira representante do Campus Barreiras)
Essa é mais que uma frase de efeito, mas é caminho mais adequado para as grandes transformações que almejamos. Já sabemos que o controle sobre os corpos das mulheres ocupa um espaço crucial na sociedade capitalista, no que tange à (re)produção da força de trabalho: o trabalho doméstico, exercido de maneira gratuita e invisível, é fundamental para liberação da mão de obra masculina para o trabalho reconhecido como produtivo. Todas essas coisas já foram ditas, o que não dissemos até aqui é sobre a feminização da força de trabalho.
Inseridas no mundo do trabalho de maneira massiva desde a II guerra MUNDIAL, as mulheres vêm paulatinamente ocupando mais e mais espaço na classe trabalhadora, quer seja ocupando postos tradicionalmente masculinos, quer seja ocupando novas funções até então inexistentes.
Só pra exemplificar: Na França as mulheres representam hoje 51% dos trabalhadores (sic) populares, entre serviço braçal e de escritório; em 1968, a proporção era de 35%. Neste meio século, o número de empregos masculinos praticamente não mudou: 13,3 milhões em 1968 contra 13,7 milhões em 2017; no mesmo período, os postos de trabalho ocupados por mulheres aumentaram de 7,1 milhões para 12,9 milhões (RIMBERT, p. 9, 2019). No Brasil esse cenário é parecido, a participação das mulheres aumenta consideravelmente desde a década de 1960.
De acordo com o IBGE, a taxa de atividade feminina, que era de 16,6% em 1960, passando para 45,9% em 1996. Parafraseando Elisabeth Souza-Lobo (2011), dizemos que a classe trabalhadora tem “dois sexos”, porém afirmamos que atualmente é predominantemente feminino, embora, a julgar pelas pautas e práticas sindicais, não pareça. Ou seja, para além de um argumento ético/moral, se queremos organizar a classe trabalhadora há que se dar voz às mulheres e atenção ao que dizemos, e situar as pautas sindicais na necessária encruzilhada do gênero, classe e raça, no mínimo.
Muitos são os revezes que estas trabalhadoras enfrentam e maiores ainda são os desafios de organizar as mulheres, ou seja, a classe trabalhadora. Como também já foi dito à exaustão, são estas que ocupam os cargos mais precarizados, recebendo os piores salários, 25% menos para a mesma função (RIMBERT 2009, p. 9), ficando menos tempo no mercado formal (em média 37 meses enquanto que homens permanecem 41,7 meses), somos as que dispõem de menor tempo de repouso entre as jornadas de trabalho. Entre as mulheres brasileiras 90,6% ainda realizam os afazeres domésticos. Entre os homens, esse percentual fica 51,35%. Entre elas, a média é de 21,35 horas semanais dedicadas ao trabalho de cuidados sem remuneração. “Para eles, é menos da metade disso (10 horas)”,por isso mesmo temos menores oportunidades de investir em qualificação e consequentemente na progressão das carreiras (no caso das que tem carreiras) e das atividades sindicais, sobretudo fora do horário de trabalho.
De acordo com o relatório apresentado pelo Fórum Econômico Mundial, no critério participação econômica das mulheres, numa escala onde participam 144 países, o Brasil ocupa a 79ª posição. A previsão é de que o país levará 170 anos para promover a igualdade econômica entre homens e mulheres, se mantendo o ritmo de crescimento de 2015, todavia com a atual conjuntura de retrocessos políticos e econômicos, com o desmonte do sistema de Seguridade Social e da destruição da previdência pública essa estimativa deve piorar muito.
Essa nova face da classe trabalhadora, feminina por excelência, mais se aproxima da imagem de um nevoeiro heterogêneo em contraposição a ideia de massa (expressão muito utilizada no passado para se referir aquelxs que supostamente fariam a revolução). Essa face revela as novas dinâmicas das relações de trabalho, e também a nossa própria sociabilidade intermediada por dígitos, tornando-nos todas e todos cada vez mais impalpáveis, reconfigurando os modos de ser e de estar.
Mais que isso a feminização do trabalho se dá em função do surgimento de novos postos tipicamente femininos, classificados como serviços à pessoa: cuidado com idosos, crianças, etc. A característica típica desse tipo de trabalho é seu caráter humano por excelência, isto é, “além de serem indispensáveis, não podem ser transferidos para outros países e tem pouca margem de automação, pois exigem contato humano prolongado e ou atenção particular em cada caso” (RIMBERT, p. 9, 2019). Na prática, as ocupações tipicamente femininas às quais se refere o autor, correspondem a uma profissionalização das tarefas femininas exercidas agora de maneira profissional num regime de trabalho quase sempre cheio de debilidade. E, nos países ditos desenvolvidos, são exercidos quase sempre por imigrantes oriundas dos países colonizados pelos primeiros.
Ora, sabemos que a revolução não será feita apenas por algumas parcelas ou categorias da classe trabalhadora, nem simplesmente pelas mulheres enquanto categoria universal e homogênea. Existem mulheres e mulheres, entre elas temos aquelas que são ricas, as que estão nas classes intermediárias e as que estão na base da pirâmide. A internacionalização da classe trabalhadora é um imperativo, se já temos o desafio de organizar uma categoria pulverizada, amorfa, pouco identificada com o mundo público da política de massas, assoberbada com dupla jornada, temos também que por em conta, entre os desafios organizativos, as diferenças étnico raciais, que – quase sempre – inscrevem o território limítrofe entre as mulheres pertencentes à classe trabalhadora e as não pertencentes.
Nesse sentido a greve internacional do dia 8 de março cumpre um papel fundamental em resgatar o caráter classista do dia internacional das mulheres, não cansaremos de lembrar que essa data surge da luta das mulheres trabalhadoras. Terá a greve internacional de 8 de março o poder de refundar o internacionalismo da classe trabalhadora através de uma parcela que, como já dissemos, se encontram dispersa em atividades pouco valorizadas, cheia de debilidades e ainda mais fragmentadas por diversas segmentações?
A resposta pode ser positiva, mas depende da criação de condições de laços que possa agregar a professora e a Técnica em Assuntos Educacionais e a entregadora de cafezinho, as faxineiras e também as estudantes, no IFBA e Colégio Militar.
A revolução poderia e poderá começar por aí.
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Em Salvador o SINASEFE-IFBA participará do ato do 8M Salvador:
Em Jacobina o SINASEFE-IFBA participará do 1º Seminário 08 de Março: