
Docentes questionam critérios utilizados pelo IFBA para a concessão de financiamentos à produção científica
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Quais os critérios utilizados pelo IFBA para financiar bolsas e apresentações de produções científicas de seus/suas servidore(a)s em eventos nacionais e internacionais? Esta é uma pergunta que muito(a)s docentes têm feito, já que a falta de transparência tem reinado na seleção dos trabalhos.
“Recentemente, um colega, professor de Física, teve o auxílio negado para apresentar um trabalho em um congresso internacional. Ele foi desenquadrado do Edital 02/2016/PRPGI. Motivo: artigo já publicado. Nada no edital mencionava o fato do IFBA não financiar trabalhos já publicados. O próprio pró-reitor de pesquisa negou o recurso do colega, alegando que é ‘cultura’ da PRPGI não financiar auxílio para apresentação de trabalho já publicado. Em Física, o mais interessante é ir para um congresso com seu trabalho publicado! O congresso é a divulgação do seu trabalho e não a publicação. Em muitas áreas, os congressos são feitos para terem publicações, mas esse não é o caso da Física. Será então que por causa da cultura da PRPGI, os físicos devem ficar de fora da disputa por auxílio para participação em congressos?”, questiona o professor de Física do Campus Vitória da Conquista Kim Veiga.
Ele diz que é inaceitável “ficar à mercê dos gostos da PRPGI ou de sua ‘cultura’” e que alguns colegas da área comentaram que o erro foi submeter o trabalho com o mesmo título do já publicado ou mesmo ter mencionado que o trabalho foi publicado. “Então devemos maquiar nosso trabalho ou nossa proposta para poder receber auxílio da nossa instituição? Ou devemos solicitar auxílio para trabalhos incompletos que nunca serão publicados? Como físico, fico totalmente frustrado com esse tipo de mentalidade. Excluir os melhores trabalhos da Física da participação em congressos é uma completa insensatez. Difícil aceitar que isso realmente aconteceu. Temos que lutar para erradicar essa falta de cultura da nossa instituição”, acrescenta o professor.
Na opinião do também professor de Física do Campus Vitória da Conquista Rafael Rocha, conseguir financiamento pelo próprio IFBA para projetos de pesquisa é bem difícil e as políticas de incentivo a pesquisadore(a)s ainda são muito poucas. Para ele, o Instituto anda muito timidamente quando se trata de pesquisa.
Rocha conta que, neste último ano, ocorreu uma mudança para o auxílio para congressos. Foi feito, desta vez, por meio de um edital para todos os congressos do ano, o que, em sua opinião, foi uma boa iniciativa para diminuir a subjetividade na seleção das solicitações. No entanto, o primeiro ponto a ser questionado neste novo modelo é que, caso um congresso que o pesquisador se interesse só fique disponível para inscrições em período posterior à submissão de solicitação de auxílio deste edital, não poderá ser contemplado e o(a) pesquisador(a) ficará sem a possibilidade de auxílio da PRPGI.
“Nesta última seleção, ocorreram episódios ‘estranhos’. Tenho conhecimento de duas situações aqui no meu campus em que recursos ao resultado preliminar não foram respondidos no período que foi estabelecido para este fim. Sendo respondidos posteriormente, informando que as situações se enquadravam nos casos omissos e, por isso, a PRPGI mantinha o indeferimento ao pedido. Entretanto, os argumentos dos recursos eram sólidos e o indeferimento não levava em conta especificidades das áreas dos pesquisadores e tinham contra-argumentos questionáveis. Desta maneira, mesmo com o edital, a seleção deixa brecha para que a subjetividade na seleção se perpetue. Isso provoca uma incerteza se os critérios utilizados são realmente os corretos, se levam em conta as especificidades das áreas, se quem julga os processos são pesquisadore(a)s da área de solicitação, seja para os auxílios, bolsas ou demais submissões de processos relacionados a realização de pesquisa no IFBA”, analisa Rocha.
Ele ressalta que a situação pode mudar com incentivo à pesquisa, por meio de financiamentos e políticas para tal fim. “Políticas de incentivo e financiamento à pesquisa devem ser sempre mantidas e aumentadas. Quando pesquisadore(a)s percebem que a realidade não favorece a realização de pesquisa e a situação não caminha para uma mudança, ocorre um desânimo e, consequentemente, uma estagnação no desenvolvimento científico no nosso instituto e acabamos escutando algo do tipo: ‘Em universidades isso nunca aconteceria. Só fazendo outro concurso”, lembra.
Imagem: Reprodução