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IFBA: do RAP ao VAZA!

out 27 2015
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Um festival de Raps, de cultura e afirmação social. Assim deveria ser o projeto “RAP no IFBA”, que aconteceria no último dia 09, no Campus Salvador. O evento foi cancelado pela Direção da unidade, que ainda humilhou publicamente um ex-aluno do Instituto, Joab Araújo Dias, de 17 anos, que estava na organização do projeto musical.

“O que aconteceu no dia anterior ao evento ‘RAP no IFBA’ deixou, mais do que claro, que toda essa conversa de que o IFBA é um espaço democrático ou até mesmo sobre a tão idolatrada ‘formação crítica’, na verdade, é uma forma de mascarar o autoritarismo que permeia a administração do Campus Salvador. Fui tratado com desrespeito pelo diretor geral, Albertino Nascimento, que atentou contra os meus direitos, ordenando a minha saída de uma instituição pública, sem que houvesse justificativas. Fui expulso de um espaço público sob tamanha grosseria – até o segurança foi acionado para me ‘acompanhar’ até a porta da rua-, que me senti sendo expulso da própria casa do diretor”, conta Joab. O ex-aluno diz que, quando questionava o dirigente sobre a razão daquilo estar acontecendo, muitas vezes ouvia, com um tom impaciente, que ele não estava autorizado a estar ali.

O evento, que seria realizado sem qualquer apoio financeiro do IFBA, contaria com intervenção artística de graffiti, batalhas de MCs e de street dance, e slackline.

Joab soube que, dias antes, a foto do seu perfil no Facebook estava na portaria principal do IFBA e que o porteiro havia dito que recebeu ordens para não deixá-lo entrar. “Sinceramente, não tenho tempo pra ver Albertino brincar de ‘Rei’. A minha intenção com o projeto era somar com o(a)s estudantes de alguma forma e fortalecer a representação negra através do Rap. Isso porque eu estudei dois anos na instituição e pude ver de perto a escassez de medidas que valorizassem elementos de reconhecimento da cultura do(a)s estudantes afrodescendentes, apesar do potencial deste(a)s para efetivar mudanças. Jamais imaginei que esta iniciativa pudesse ser tão repelida pela administração, pelo simples fato de eu não estudar mais lá”, afirma Joab.

Para o aluno do curso de Edificações do Campus Salvador Pedro Paulo Tavares, de 18 anos, o que aconteceu com Joab não foi um caso isolado, basta lembrar dos 19 alunos expulsos ou suspensos do Campus Camaçari. “Acontece praticamente todo dia, seja com professore(a)s, com técnico(a)s administrativo(a)s ou com estudantes, mas são raros os casos que conseguem visibilidade. Cada dia que passa, as coisas só pioram. Esse episódio foi a demonstração dos tempos sombrios que a comunidade do IFBA vive. Estamos num momento em que, não só a democracia, mas toda a instituição está comprometida, simplesmente por causa das atitudes antidemocráticas e arbitrárias que os gestores têm tomado. Como se já não bastasse, Albertino, que não dá a mínima para a formação cultural e cidadã dos estudantes, impede que um ex-aluno, transbordado de boas intenções, faça o trabalho que ele deveria cumprir”, avalia o estudante.

Pedro, que conhece e milita ao lado de Joab desde 2013, quando eram calouros, garante que a exacerbação no tratamento com o ex-aluno é resultado de uma “perseguição pessoal e política”. “Sempre fizemos forte oposição às medidas equivocadas do diretor. Nunca nos intimidamos ou ficamos com receio de falar algo. Coragem nunca nos faltou e isso gerou certo rancor por parte da gestão”, acrescenta.

Segundo a coordenadora de Combate à Opressão do SINASEFE-IFBA, Rosângela Castro, o Sindicato entende que os ataques a estudantes parte de um pacote de medidas autoritárias implementadas pela atual gestão do IFBA. “Há um clima geral que atinge servidore(a)s e estudantes de maneira sistemática, basta ver o que ocorreu em Camaçari e, agora, em Salvador. A perseguição é seletiva, são sempre aquele(a)s que se posicionam criticamente. Todas essas ações da gestão dão mostras explícitas que o Instituto, ao contrário do que preconiza seus próprios parâmetros, através de assujeitamentos cotidianos, pretende produzir corpos dóceis e braços úteis para servir de forma bovina ao capital”, compara Rosângela.

“A mesma rocha que bloqueia o caminho poderá funcionar como degrau” (Osho)

O RAP e a Educação

O professor Ivan Messias, mestre em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e autor do livro “Hip Hop, Educação e Poder”, ressalta que uma Educação autoritária anula a iniciativa científica, a autonomia intelectual, a cultura da pesquisa e, é desse capital que nós, brasileiros, precisamos para fornecer à sociedade como respostas aos investimentos feitos em nossas carreiras. “Sequer temos um Nobel no campo das Ciências Exatas, da Literatura, da Tecnologia. Estamos quase fora da civilização a que aspiramos, estamos fora do primeiro mundo sofisticado. Perdemos de 7 a 1 em lisura na política, em diplomacia, em transportes, saúde, civilidade, etc. A força bruta é a tradição na vida desta nação e o Estado precisa alterar positivamente suas práticas, distantes da arte, do bem-servir, do bem estrar social. As repartições são mestres em preconceitos e violências diversas. É preciso muita luta para modificarmos isso em prazo longo”, analisa Messias.

Ele lembra que as bases do Rap vêm da Jamaica, e lá, Bob Marley disse “não vim para me ajoelhar, vim para conquistar”. Para o especialista, no Brasil, a música Rap do Afrogueto, Racionais, Facção, RZO, Negro Davi, Emicida, Criolo, Eduardo, Sabotage ama a liberdade, a autogestão, a politização, a mobilidade positiva, sem deixar de ser combatente, resistente, crítica.

“A crítica sincera é a maior solução e ensinamento da movimentação Rap. Entretanto, a música Rap é variada, não tem só um modelo de resistência. Cada grupo faz um movimento, segundo sua caminhada e intenções. Ou seja, resistência não é concentrada, nem tão consciente quanto parece, a arte é plural, não atende as nossas expectativas e modelo de insubordinação; o Rap negocia, dialoga, e também se insere no mercado e deseja oportunidades; rejeita o autoritarismo, a repressão institucional, antidemocrática. Os músicos cantam, palestram que é preciso lutar contra isso, com as forças que se tem. Movimento Rap (hip hop) é vontade, é trabalho, é viver negando, insubordinando-se contra injustiças. Para lembrar: a mesma rocha que bloqueia o caminho funciona como degrau”, ensina o professor.

Ele ainda ressalta que a UNEB e a UFBA entenderam o que é arte na música popular, o Rap, e que a prova disso é que existem diversos estudos, publicações, diálogos, eventos sobre movimento Rap (hip hop). “Isso demonstra relativa interação entre academia e o que é artístico, elevado e crítico. O IFBA também precisa ouvir, dialogar, inovar a concepção de gestão em prol de saberes e linguagens diversas”, finaliza.

Fonte: SINASEFE-IFBA

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