
Ocupação Luisa Mahin conquista direito à moradia digna
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Depois de mais de um ano de luta, a Ocupação Luisa Mahin fechou um acordo com o Governo do Estado e garantiu moradia digna para as 25 famílias que ocupavam um prédio abandonado no Centro de Salvador. Elas deverão desocupar o imóvel até junho, quando se instalarão em um conjunto habitacional do Minha Casa Minha Vida em São Cristóvão.
Além de uma habitação regular, os(as) moradores(as) terão escola para as crianças e posto de saúde. “Conquistamos, através da luta, o direito à moradia para 25 famílias, sendo que isso é negado pra grande parte das famílias brasileiras. Nós percebemos que só a mobilização e a luta organizada, através das ocupações urbanas, conquistam o direito à moradia digna. Há um ano e meio, essas mesmas pessoas que agora conseguirão suas casas moravam de favor ou de aluguel. Depois, foram pra Ocupação e, mesmo com o Governo do Estado cortando água e luz, permaneceram firmes, mesmo diante das dificuldades”, avalia o coordenador do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), que organiza a Ocupação Luísa Mahin, Gregorio Gould.
Para ele, a principal mensagem que fica para a sociedade é que só que quem luta, conquista, e isto é muito importante, principalmente no momento em que há a retirada de vários direitos dos(as) trabalhadores(as) e um governo que, cada vez, mais ataca a democracia, “que já era limitada e hoje está completamente esfacelada”. “Vemos o Exército no Rio de Janeiro fazendo uma intervenção, que, na verdade, é só um fortalecimento do que já acontece por parte da PM, que é o genocídio da nossa juventude pobre e negra. O nosso povo precisa se organizar e lutar, sem depender dos(as) ricos(as), dos(as) que mandam nesse país, pois, só assim, a gente vai construir uma sociedade nova, fruto da nossa luta e da nossa organização”, contextualiza Gould.
Na Ocupação Luisa Mahin, também funciona a Escola de Formação Popular Carlos Marighella e um cursinho pré-vestibular, mas, na proposta do Governo do Estado, não está previsto o espaço para a manutenção dessas iniciativas. Agora, a organização da ocupação está lutando em duas frentes. A primeira é para fazer com que o Governo cumpra o seu papel social e escolha um espaço no Centro Antigo de Salvador para a escola funcionar. A segunda é a criação de uma campanha para financiar, por seis meses, o aluguel de um local provisório para a instituição de ensino. Eles(as) precisam juntar pelo menos R$ 6.000 para arcar com a locação, enquanto aguardam o retorno da administração pública estadual. A campanha pedirá o apoio de estudantes de escolas públicas e privadas, movimentos sociais e entidades de luta popular.
Ellen Paz, estudante do 3º ano do Ensino Médio e aluna do cursinho pré-vestibular disponibilizado na Escola de Formação, diz que as aulas são bastante produtivas e os(as) professores(as) comprometidos(as), responsáveis e atenciosos(as). “Tenho contato com assuntos similares à tarde, no colégio, e à noite, no cursinho, por isso absorvo os conteúdos com mais facilidade e ainda aprendo de forma mais aprofundada. Vemos esse cursinho pré-vestibular como uma oportunidade para quem não tem condições de pagar aulas preparatórias para os exames das faculdades. Essa iniciativa ajuda a promover a inclusão de jovens negros(as) e periféricos(as) nas universidades”, resume Ellen.
Ela espera que o cursinho permaneça e que os(as) organizadores(as) da Ocupação não desistam de achar um lugar para ele funcionar em 2019. Para garantir a continuação das aulas até o final deste ano, Ellen será uma das ajudantes no recolhimento de recursos para a campanha de arrecadação. A estudante não desistirá até fazer Ciências Contábeis na UFBA ou na UNEB.
Só a luta transforma
Segundo a coordenadora do SINASEFE-IFBA e professora de Física do pré-vestibular da Escola de Formação Popular Carlos Marighella, Luzia Mota, a Ocupação Luisa Mahin tornou-se um símbolo de resistência para a Salvador que luta e que acredita em uma cidade mais justa e humana. “A minha aproximação com a Ocupação ocorreu, inicialmente, com a doação de livros para uma biblioteca comunitária que foi montada lá. Não muito tempo depois, surgiu a proposta de organizar um pré-vestibular popular no espaço e disponibilizei meu nome para dar aulas da disciplina de Física. Todo curso popular é de caráter voluntário. No meu caso, o trabalho realizado no Luisa Mahin é voluntário e compartilhado com os(as) discentes do curso de Licenciatura em Física do IFBA Salvador, que, a partir desse semestre, vão contribuir dando aulas no pré-vestibular. Será uma experiência de aprendizado, solidariedade e de formação para os(as) licenciandos(as) e para mim”, explica a coordenadora.
Ela conta que fazer parte desta iniciativa representa mais uma frente de luta e mais uma ação de emancipação social. Para a professora, colaborar com a preparação para o ENEM de jovens da periferia de uma cidade tão desigual como Salvador é ajudar a construir trajetórias de vidas que são transformadas e transformam a partir da Educação.
Luzia relata que, o fato dos(as) moradores(as) da Ocupação terem conquistado uma moradia digna proporciona um sentimento de vitória. “Vitória advinda da luta, da mobilização, da esperança de que só a luta política transforma a vida. Como dizia Carlos Marighella, herói popular baiano que dá nome à escola de formação e ao cursinho pré-vestibular da Luisa Mahin: ‘A única luta que se perde é aquela que se abandona’. A Ocupação Luisa Mahin nos deu prova disso e nos remete a ideia de que o direito humano à moradia digna, segura, sustentável e com condições comunitárias de habitação para famílias pobres é possível em Salvador. Todavia, apesar do sentimento de vitória que deve ser celebrado, sabemos que a luta não termina com a conquista da moradia. O direito ao trabalho, à escola de qualidade, à saúde, ao lazer e à acessibilidade são lutas que deverão ser enfrentadas pelas famílias da Luisa Mahin e por tantas outras no Brasil que continuam ocupando espaços em busca de condições dignas de vida”, finaliza a docente.
Imagem: Reprodução